9 Fev (Reuters) - Postagens nas redes sociais compartilham imagens aéreas do complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia, como uma falsa evidência de que o governo Lula teria “fechado” a transposição do rio São Francisco e provocado uma “inundação desordenada”. A filmagem mostra uma cachoeira formada pela abertura de comportas da usina em períodos chuvosos. A Eletrobras Chesf, companhia administradora do complexo, negou que o fenômeno tenha relação com o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF).
O conteúdo, no entanto, espalha uma legenda mentirosa que insinua a ocorrência de uma “inundação desordenada” na barragem de Sobradinho, na Bahia. “O BANDIDO MANDOU FECHAR A TRANSPOSIÇÃO E O NIVEL DE SOBRADINHO SUBIU (...) inundação desordenada começando. Mas você não está vendo a TV aberta falar nada. Faz o L”, diz uma publicação no Twitter. No Facebook, uma postagem que espalha a mesma desinformação acumulou mais de 2,8 mil compartilhamentos. (ibb.co/b5Wx0mz) e (ibb.co/bFWCmkZ).
A Reuters Fact Check identificou que o local corresponde ao complexo de Paulo Afonso, e não à barragem de Sobradinho. Os dois empreendimentos ficam a mais de 300 km de distância por via terrestre e estão localizados na Bahia, apesar da legenda errônea citar o governo do Ceará. Uma foto das usinas de Paulo Afonso publicada no site da Chesf permite confirmar detalhes que aparecem na filmagem investigada e no material divulgado pela companhia (here).
Por telefone, a assessoria de imprensa da Chesf explicou que na barragem de Sobradinho existem comportas com vazão para a transposição do Rio São Francisco e que as estruturas estão funcionando normalmente. O vídeo investigado mostra as cachoeiras formadas no complexo de Paulo Afonso de acordo com a operação das comportas da usina em situações de cheia da bacia do rio.
A empresa administra a vazão das águas para controlar os impactos sobre comunidades ao redor. Não se trata de uma inundação desordenada, como diz a informação falsa. A assessoria da Chesf também ressaltou que o fenômeno não tem qualquer relação com o PISF.
“A quantidade de água que sai por essa comporta [de Sobradinho], em relação ao volume de sobradinho e ao volume do rio São Francisco, é irrisória. Supondo que fosse fechada, não iria causar uma cheia no reservatório a tal ponto de fazê-lo transbordar ou romper”, disse um porta-voz da empresa.
Não foi possível, porém, confirmar quando o vídeo foi gravado. Segundo a Chesf, “atualmente o rio está cheio e as cachoeiras estão vertendo, inclusive atraindo turistas”.
Um vídeo publicado no Instagram em 18 de janeiro de 2023 mostra imagens aéreas das cachoeiras do complexo de Paulo Afonso (here). O site de notícias G1 divulgou no dia 20 do mesmo mês que a Chesf liberou as visitações turísticas ao local (here).
Em janeiro de 2022, um artigo publicado no site do governo da Bahia noticiou que a cachoeira voltaria a ficar visível. “Agora, após 12 anos, a cachoeira de Paulo Afonso pode ser admirada novamente por moradores da região e turistas. Isso foi possível por causa da cheia na bacia hidrográfica, que provocou a abertura das comportas e, consequentemente, o ressurgimento das quedas d’água”, diz a nota (here).
Procurado, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional não respondeu. A Reuters Fact Check já desmentiu outras alegações falsas de que o governo Lula teria fechado a transposição do rio São Francisco e prejudicado o abastecimento de água em estados nordestinos (reut.rs/40TQceK).
VEREDICTO
Legenda errada. Não é verdade que imagens aéreas mostrem uma inundação desordenada causada na barragem de Sobradinho pelo suposto fechamento da transposição do rio São Francisco. A filmagem retrata as cachoeiras do complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia, formadas pela abertura de comportas em períodos chuvosos. A Chesf, que administra as duas usinas, negou que o evento tenha relação com algum problema na transposição e disse que os complexos operam normalmente.
Este artigo foi produzido pela equipe da Reuters Fact Check. Envie sugestões de checagem via WhatsApp pelo número (11) 91599-9278 ou por este link (wa.me/+5511915999278). Leia mais sobre nosso trabalho de checagens de afirmações nas redes sociais aqui (here).
Our Standards: The Thomson Reuters Trust Principles.